Os excertos que a seguir apresento fazem parte do meu romance inédito "A Apneia do Amor". A história, baseada em factos reais, passa-se na Vila da Chamusca e na cidade de Paris, nos anos de 1967 a 2010.
Entre a tristeza e a alegria, que são sentimentos tão sensíveis quanto a vida, e a emigração que dividiu famílias e subtraiu afectos, houve sempre a esperança feliz do AMOR.
FRANCISCO (um dos personagens do livro)
Para mim o Amor é o sentimento mais
profundo, verdadeiro e importante na vida do ser humano. Não tem um tempo
próprio, ou uma idade especial para se manifestar, apesar de ser um fruto da
nossa alma e do nosso coração.
Dizem que há quem passe pelo longo
caminho da sua existência e nunca o encontre. Quem o maltrate por desejos
absurdos de luxúria, Poder e dinheiro. Argumentos que jamais o poderão
substituir, para infelicidade dos próprios e daqueles que sofrem a inclemência
da ditadura desesperada dos seus sentimentos ocos. Há quem o conheça e ame
desditosamente a sua lembrança, desfeita como espuma pelas marés incontroláveis
da vida. Há os que o sentem e o sofrem e são incapazes de suportar a presença
da dor. E os que mesmo sofrendo, enfrentam a violência do sangue salpicando os
sentimentos, mas não se rendem, enfrentando a besta do destino apenas com o
corpo desarmado de esperança. A esperança de que só o Amor pode salvar. Só ele
pode dar sentido a uma vida constantemente profanada pelo medo, pela ambição
desmedida, pelo ódio, pela raiva, pelo desrespeito, pela violência, pela
discriminação, pelo completo desprezo pelos direitos humanos, dos animais e da
natureza.
MANUELA (outra das personagens do livro)
Já não posso pedir mais à minha memória.
Sei que fui para França, levada pela minha mãe que, dizem-me, veio a falecer de
cancro alguns anos mais tarde. Contam-me que o Francisco ali me foi visitar e
que durante essa visita me engravidou. Que dei à luz a Sandi. Que pouco tempo
depois dei uma queda aparatosa e bati com a cabeça no lancil do passeio, tendo
ficado internada e inconsciente durante alguns anos num hospital em Paris e depois no de Santarém.
Dizem-me que me trouxeram para Portugal, e posteriormente
para esta casa, para que estivesse junto deles e pudessem continuar a cuidar de
mim, à espera de um milagre que me despertasse e nos trouxesse a felicidade.
Disto nada sei ou me lembro, e confesso que não faço questão alguma em me esforçar por recordar ou reconstituir.
Agora importa tão-somente dizer que amo
o meu irmão pelo carinho, pela amizade, e pela atenção que ele me devota hoje
em dia, mas também pela dedicação e ternura que me deu na infância. Amo-o acima
de tudo porque esteve sempre junto de mim, mesmo quando eu não era mais do que
uma sombra perdida no mundo do esquecimento. Ser irmão não é uma questão de
sangue. Ser irmão é um sentimento de profundo Amor.
Amo o meu marido, porque foi juntos
que aprendemos a descobrir o Amor ainda na infância. Amo-o pelo nosso presente,
de adultos apaixonados. Amo-o pela coragem que demonstrou ao atravessar durante
anos o deserto dos meus sentimentos. E pela dedicação íntegra de nunca ter
desistido do nosso Amor. Agradeço-lhe por me ter resgatado da enfermidade dos
hospitais. Me ter trazido para Portugal, e ter construído a sua vida em prol do
nosso Amor. Amá-lo-ei eternamente por ter acreditado num sentimento verdadeiro e ter
tido a fé, a certeza e a esperança de que só o Amor nos podia salvar.
Amo a minha filha e isso é tudo.
Faltam-me as palavras, que não o Amor, pois tenho uma imensidão de gestos para lho
expressar.
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